Recebi a notícia da sentença do Tribunal, que pela segunda vez confirmou a nossa total e inequívoca razão em todos os quesitos, com natural satisfação. Por uns momentos, gozei essa felicidade de sentirmos ser feita justiça, essa compensação de nos reconhecerem toda a razão, após um esforço gigantesco de lutar pela nossa verdade.
É estranho. Passados que foram uns poucos minutos de euforia, caí em mim e numa profunda tristeza.
O caminho que foi preciso percorrer para demonstrar tão simplesmente que fomos, desde o princípio, vítimas de uma tirania punitiva que foi capaz de colocar acima das suas nobres funções, vinganças ou frustrações pessoais e não é digna de ocupar cargos de direção e gestão nacional de desporto e em particular do Rugby. É isto que verdadeiramente me entristece.
Desde o início que me interrogo se os acontecimentos não terão sido provocados, na tentativa de criar condições para cumprir a vontade de aniquilar o Técnico Rugby de uma vez por todas. Ou pelo menos infringir-lhe um tal golpe (descida à 3ª Divisão, a equipa Campeã Nacional), que quase fosse milagre a sua recuperação. É muito triste, para mim, imaginar que uma situação destas possa existir no seio dos próprios dirigentes do nosso Jogo.
É tenebroso pensar que os acontecimentos se desenrolaram cronologicamente de maneira precisa, para criar artificialmente (porque nada ligadas à questão base que era um protesto de um adversário pela nossa hipotética utilização de jogadores indevidos), todas as dificuldades ao Técnico.
É a Associação de Estudantes que decide, de supetão, acabar com um protocolo inócuo, com 47 anos de existência, nunca posto em causa, sem justificação plausível, mas que vai falar primeiro com a Federação, antes sequer de nos dar conhecimento da sua intenção. É uma Federação (os seus representantes), que nessa mesma hora, envia desesperadamente para Tribunal esta situação de cessação do protocolo (que é que isto terá a ver com o protesto do jogo?), invocando nulidade por alteração das relações particulares do CRT e da AEIST. Vale tudo? Vale tudo para ganhar uma causa que começou num protesto de um jogo e tudo é manipulado (o CD da FPR, não dá, como lhe competiria, o hipotético castigo, mas passa-o para a Direcção da Federação que não tem poderes disciplinares; a Federação marca jogos antes de saber o resultado do julgamento do protesto— indiciando que já sabia qual seria o desfecho do mesmo — e portanto adiantou-se a marcá-los, sem já a presença do Técnico), tudo feito no limbo das margens das regras e das leis. Mas que o Tribunal analisa, julga e condena em todos estes quesitos a Federação, dando integral razão ao Técnico, sem qualquer margem para dúvida.
Já quase no fim deste julgamento pelo TAD, antes de ser conhecida a sentença, algo de insólito acontece. Numa linha ipsis verbis do que tinha acontecido no início do julgamento (relativamente à surpresa da extemporânea cessação do protocolo inócuo da Associação com o CRTÉCNICO, sem qualquer aviso ou consulta prévia), a Federação recebe um “conveniente” e-mail, assinado por alguém que se denomina procurador da AEIST, a pedir a desfiliação da AEIST da Federação. Porque é que isto acontece? À revelia, a contrário senso de tudo e de todos, quem é que poderia tirar benefício desta incongruência absurda? Ninguém? Sim, à primeira vista … Mas um assunto desta gravidade não é sequer abordado com o Técnico – Rugby? Não há sequer um telemóvel à mão? Surpreendente… E a Federação aceita de olhos fechados, que um assunto desta magnitude e importância, à revelia de toda a lógica e bom senso (vindo de uma entidade que estava a litigar consigo!) seja tratado por um mail, sem se dar ao trabalho de confirmar quem era o procurador e qual a sua delegação de poderes? É muito estranho… e muito triste.
Uma situação totalmente anómala, que implica a perda de um Sócio com 60 anos e sua equipa, a Campeã Nacional, e a Federação não reage? Ah, mas essa proverbial desfiliação, (que chega a ser lastimada em declarações oficiais de um cinismo atroz), dá imenso jeito aos dirigentes da Federação, porquê?
É que a Federação, prestando-se ao entendimento que já estava à espera deste milagre, deu importância maquiavélica a este mail controverso e duvidoso, que lhe caiu do céu: é que na hora usou-o para o enviar ao Tribunal e pedir a nulidade (mais uma vez), uma vez que o demandante (AEIST) se tinha desfiliado! E, note-se, a Federação fê-lo em tempo recorde, com um documento de dezenas de páginas que entregou no TAD; será mesmo que terá adivinhado, que esta tal suposta dádiva do céu, iria aparecer numa altura desesperadamente necessária, para tentar inverter, com algo que nada, mas nada tinha a ver com o tal protesto do jogo, para tentar fugir à sentença contra si, já esperada? Outra vez, desculpem, vale mesmo tudo?
O Tribunal recusou liminarmente, como no caso anterior, este “argumento” da Federação.
E condenou a Federação a reintegrar o Técnico na Divisão de Honra, a pagar ao Técnico uma multa de 340 mil euros, e a reiniciar todas as provas de que tinha afastado o Técnico.
Da parte de quem provocou tudo isto, nem um assomo de desculpas, quanto mais de arrependimento. É tão triste, que mesmo antes de sair a sentença (que se verificou ser 100% a nosso favor), a Federação ainda sem o seu conhecimento, com a arrogância espúria que a caracteriza declarar que, “fosse qual fosse a sentença, iria sempre recorrer”! Tão deprimente.
O tempo que se perdeu nisto tudo, o dinheiro que foi gasto desnecessariamente de parte a parte, ( tão bem que seria aplicado na formação de jovens ) dá-me uma profunda tristeza.
Fico também triste porque foi desconsolador ouvir os Amigos de sempre, que perante a minha detalhada e clara exposição dos factos, traíram a minha confiança e passaram a acreditar em mim apenas às segundas, quartas e sextas.
Entristece-me que as Autoridades que governam o desporto, depois de todas as exposições feitas, depois do resultado da sentença do TAD, se acanhassem perante os prevaricadores e não actuassem, prejudicando não só o Técnico, como o Rugby e o Desporto na generalidade.
A sentença do TAD não tem recurso, a Federação nada mais tinha a fazer que dar-lhe cumprimento. Mas numa atitude de desespero, a Federação continuou a recorrer. A recorrer de quê? A recorrer porquê? A recorrer para quê?
O protesto, o tal protesto, estava decidido a nosso favor. Porquê então aproveitar-se escandalosamente de uma pseudo-desfiliação, para recorrer para um Tribunal Administrativo.
Pela ganância de aniquilar o Técnico? Ganhar tempo para as competições se desenrolarem e utilizar o estratagema do facto consumado? A sua prática de independência, é esta? Vontade de gastar mais dinheiro?
Obviamente os fictícios argumentos administrativos já nada têm a ver com o tal protesto do jogo, integralmente resolvido a favor do Técnico. O Tribunal, passados mais seis longos meses, confirmou-o.
“O Técnico desfiliou-se, já não existe!” é já um berro rouco e desacreditado que soa sem sentido da boca de quem nunca teve razão… E sobretudo porque uma Federação que prezasse em defender, como é sua obrigação, os seus Clubes, seria a primeira a ter vergonha por utilizar tais argumentos. Pelos Clubes que devia defender, por todos nós que devia respeitar, como, na verdade o devia fazer, como ilustres Professores de Direito o disseram em Pareceres, que a “desfiliação” não produziu efeitos jurídicos e … pelo Tribunal, que demonstrou que estava errada.
O Tribunal Administrativo para o qual cegamente a Federação recorreu, rejeitou TODOS os argumentos e quesitos implorados pela Federação.
Todo este comportamento da Federação é revoltante e muito triste, mau demais para ser verdade. Mas infelizmente, é.
Neste torpor triste e de raiva também que me perpassa, pergunto-me como vai agora fazer a Federação? Vai finalmente ter a hombridade, a humildade e a coragem de assumir o “espírito do Jogo” e pedir desculpas, não ao Técnico, já não espero essa nobreza, mas a Vós, a todos os Rugbistas, a quem a Federação delapidou umas centenas de milhares de euros, apenas por má gestão, teimosias serôdias, incapacidade de se colocar na sua missão superior de dirigir o Rugby com empenho, justiça e independência.
E as Autoridades? Uma vez que a questão está totalmente dirimida nos Tribunais, nada impede de exercerem a sua magistratura de influência, garantindo a pureza e a justiça no Desporto. O caso já deixou de estar na “alçada dos Tribunais”, portanto o que será politicamente correcto a partir de hoje, é que a Federação, de si dependente, cumpra integralmente as decisões dos Tribunais. Acredito nas Instituições, tenho grande esperança numa postura íntegra, justa e actuante.
Em verdade vos digo, recordo minuto a minuto todos os momentos deste “Case Study”.E agora, no fim, não tenho qualquer euforia por nos ter sido dada toda a razão. Sabia-o desde a primeira hora.
Pelo contrário, lamento profundamente que a natureza humana, sobretudo quando instituída em cargos dirigentes, tenha comportamentos revanchistas, que lhes tolhem de tal forma a mente que deixam de ver. É essa cegueira irresponsável que me provoca esta amargura, que eu gostaria que nunca mais voltasse a acontecer.
E rogo-vos a todos Vós, Amigos e Companheiros que alguma vez vestiram a gloriosa camisola do nosso Técnico, pensemos em Abril de 2021 e esqueçamos todo este período degenerado desde aí e até agora, que nos foi massacradamente imposto.
E, se vos for possível, tentai recuperar as forças e a alegria para orgulhosamente voltarmos àquilo que sempre fomos: um formidável Clube de Rugby!
E o maior exemplo de grandeza e de brio que podemos dar, é, como eu próprio já introspectivamente fui capaz, esquecer e perdoar a todos aqueles, que sem qualquer motivo plausível ou de justiça, mas motivados de pura maldade, nos quiseram fazer tanto mal.
Parafraseando Churchill, “se na derrota desafiámos e vencemos, sejamos agora magnânimos na Vitória”.
Um abraço muito apertado a todos Vós,
José Bento dos Santos